sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Discurso de Apoio a Octávio Pato


Apoio à Candidatura de Octávio Pato (Discurso no Palácio de Cristal)

Amigos!

Companheiro!

Fomos um dos proponentes da candidatura, à Presidência da República, do nosso antigo colega na Universidade do Porto, General Costa Gomes.

Pelo aprumo e pela coragem com que tem exercido o alto cargo de Presidente da República, pelas enormes dificuldades que teve de enfrentar, pelas horas dramáticas vividas, pelo seu êxito em evitar confrontações violentas entre portugueses, pela capacidade política que revelou em conciliar o que devia ser conciliado e em repelir o que devia ser repelido, o General Costa Gomes bem merece o reconhecimento e estima dos democratas portugueses.

Por motivos que oportunamente explicou, o General Costa Gomes não aceitou candidatar-se à Presidência da República e, assim, para cada um dos seus proponentes, surgiu o problema de escolher em quem votar; problema tanto mais delicado quanto é certo que os quatro candidatos, todos cidadãos dignos do nosso respeito, se apresentaram perante o povo, preconizando linhas de acção que não podem ser consideradas contraditórias, proclamando propósitos ou programas que não podem ser considerados divergentes.

Esta foi a razão por que, juntamente com o professor Ruy Luís Gomes, dirigimos telegramas a três dos candidatos, aquando do seu comício no Porto. Nesses telegramas nós afirmávamos: é fundamental a convergência das candidaturas que defendem a Constituição da República, a Independência Nacional, a reforma agrária, as nacionalizações, o controle operário, a descolonização, a liquidação da base económica do fascismo – isto, para assegurar a formação de um governo de esquerda, com larga participação de socialistas e comunistas.

De facto, só um governo de esquerda, com larga participação de socialistas e comunistas, será capaz de mobilizar as massas populares, suscitar o seu apoio para consolidar as conquistas revolucionárias e prosseguir a revolução rumo ao socialismo.

Mas os programas e propósitos proclamados pelos candidatos, exactamente pelos vários pontos comuns que contêm, não podem, só por si, ajudar-nos a avaliar as repercussões que poderão resultar, para o nosso País, da eleição de um deles, em confronto com as que poderão resultar da eleição de um outro.

Assim, se quisermos avaliar tais repercussões, não podemos limitar-nos a recorrer aos programas e propósitos proclamados pelos candidatos. Na verdade, como nenhum dos candidatos pode contar somente consigo para realizar aquilo que se propõe, tendo por isso, que se valer das forças políticas que o apoiam, é exactamente para tais forças que devemos dirigir a nossa atenção, se queremos fazer ideia do que poderá suceder, se este ou aquele for eleito.

Quer dizer, é para tais forças políticas que temos de olhar a fim de decidirmos a quem vamos dar o nosso voto.

Encarando as quatro candidaturas apresentadas, à luz das forças políticas que as apoiam, nenhuma dúvida restará, Amigos, de que, sem desmerecer ninguém, a candidatura que, perante o Povo, com maior limpidez, com maior coerência, sem sombras de aventureirismo, é, em nosso entender, a candidatura do companheiro Octávio Pato.

A candidatura em que os propósitos essenciais não são formulados à pressa para esta conjuntura, antes são propósitos de toda uma vida de luta e dedicação à causa da libertação política, económica e social do Povo Português, é, em nosso entender a candidatura do companheiro Octávio Pato.

A candidatura que tem em conta, de maneira realista, os resultados da eleição para a Assembleia da República, eleição em que o Povo disse não à reacção, é, em nosso entender, a candidatura do companheiro Octávio Pato.

A candidatura que, pelas forças políticas que a apoiam, tem melhores condições para suscitar a convergência de esforço no sentido de defender a Constituição da República, a reforma agrária, as nacionalizações, o controlo operário, a descolonização, a liquidação das bases económicas do fascismo, é, em nosso entender, a candidatura do companheiro Octávio Pato.

A candidatura que, para a defesa das conquistas alcançadas pelo Povo desde o 25 de Abril e para novos passos rumo ao socialismo, luta consequentemente pela unidade da classe operária e por um governo de maioria de esquerda é, em nosso entender, a candidatura do companheiro Octávio Pato.

Na realidade, Amigos, nesta candidatura, em que participam antifascistas de diversas tendências, não há a promiscuidade eleitoralista dos que votaram a favor da Constituição e dos que votaram contra a Constituição.

Aqui não têm lugar os que disseram não à Constituição da República.

Nesta candidatura, em que participam homens e mulheres de vários níveis económico-sociais, não há o apadrinhamento de uniões xxxxxxxxx entre exploradores e explorados.

Aqui não há lugar para os exploradores.

Nesta candidatura, que reúne operários, camponeses, trabalhadores do mar, estudantes, intelectuais, pequenos e médios agricultores, comerciantes e industriais, nimguém pretende fazer passar, de contrabando, os grandes patrões por dignos elementos das classes trabalhadoras.

Aqui não há lugar para os mistificadores.

Nesta candidatura, além de se defenderem as conquistas da Revolução, pretende-se dar novos passos rumo ao socialismo e ninguém vai piscar o olho à grande burguesia, dizendo que o socialismo de que fala a nossa Constituição é apenas uma meta ideal, vaga, nebulosa e longínqua, a ser atingida somente quando os netos dos netos dos nossos netos tiverem barbas brancas.

Aqui não há lugar para vigarices.

Não é nesta candidatura que se recebem os indivíduos afectos aos Kaúlzas, Galvões e Pompílios que desistiram de se candidatar à Presidência da República ou não conseguiram candidatar-se.

Aqui não há lugar para os colonialistas.

Não é com esta candidatura que se divide o Conselho da Revolução ou os militares progressistas.

Aqui defende-se a aliança do Povo e Forças Armadas, inspirada nos princípios libertadores do 25 de Abril.

Não é nesta candidatura que se acolhem os xxxxxxxxxxxxxxxx e os mentirosos que se servem da liberdade de imprensa para atacar as liberdades democráticas, para atingir a honorabilidade de figuras destacadas da Revolução, para caluniar os camponeses que fizeram a reforma agrária.

Aqui não há lugar para caluniadores.

Não é nesta candidatura que se dá guarida a sabotadores da economia nacional, de regresso do estrangeiro, para onde, a certa altura, se safaram, a fim de não enfrentarem as consequências das conspirações contra a Revolução, em que andaram envolvidos.

Aqui não há lugar para contra-revolucionários.

Também não é nesta candidatura que irão votar os juízes dos Tribunais Plenários recém – integrados, a quem os seus aliados no aparelho de estado evitaram que, até agora, prestassem contas dos seus actos de colaboração com o fascismo.

Aqui não há lugar para os fascistas.

Por tudo isto, Amigos, é que estamos ao lado do companheiro Octávio Pato. É para esta candidatura que devem convergir todos os que acham necessário consolidar as conquistas da Revolução, todos os que defendem a formação de um governo de maioria de esquerda, governo que as eleições para a Assembleia da República tornaram não só viável, mas imprescindível para o avanço da Revolução.

Amigos socialistas de vários partidos e socialistas sem partido!

Não é naturalmente apoiando a candidatura que os partidos do patronato apoiam, que colaborais na construção do socialismo.

Não é votando em quem vão votar os eleitores afectos aos Kaulzas, Galvões e Pompílios, que ajudais a liquidar os restos fascistas, que ajudais a desmantelar as organizações terroristas.

Não é votando em quem (mesmo contra sua própria vontade) reúne à sua volta as forças reaccionárias, que defendeis as conquistas democráticas do Povo Português.

Amigos!

Penso que a formação do chamado “governo socialista homogéneo”, mau grado talvez as intenções de quem o concebeu, não abre caminho ao socialismo. Se abrisse, como se compreenderia que tal governo fosse aceite por aqueles que abertamente se proclamam anti-socialistas e por aqueles que o são de facto, mesmo que assim se não proclamem?

Por que motivo os partidos do patronato, os partidos da reacção se não opõem terminantemente ao chamado “governo socialista homogéneo”?

Será, Amigos socialistas, porque os reaccionários, os fascistas, os comprometidos com os monopólios e latifúndios, se transformassem, de repente, em ovelhas mansas?

Não, Amigos socialistas, essa gente só aceita o chamado “governo socialista homogéneo”, por que tal governo se lhes apresenta como a fórmula conveniente, como o truque, para afastar os comunistas da governação pública.

Historicamente, os promotores do chamado “governo socialista homogéneo”, quaisquer que sejam as suas intenções, serão responsáveis por mais uma tentativa de divisão da classe operária.

Só assim se pode compreender que os anti-socialistas aceitem tal governo, mesmo numa primeira fase. Eles próprios, os anti-socilistas, esclarecem que esse governo não será o único a existir durante todo o próximo mandato do Presidente da República; eles próprios ameaçam crises que provocarão a existência de vários outros governos e esses governos incluirão anti-socialistas.

Assim, o chamado “governo socialista homogéneo”, necessariamente minoritário e vivendo da “boa vontade” das forças reaccionárias, será um factor de desestabilização político-social, enquanto que o governo de esquerda por que lutamos, com larga participação de socialistas e comunistas, será um governo maioritário e, por isso mesmo, um factor de estabilidade rumo ao socialismo.

Na realidade só é possível um governo autenticamente socialista com a participação comunista.

Por isso, Amigos socialistas de vários partidos e socialistas sem partido, vinde connosco e votai em Octávio Pato.

Deixai de ser a tábua de salvação a que se agarram desesperadamente os náufragos da política de protecção aos monopólios e latifundiários, deixai de ser os paus de cabeleira dos adversários da descolonização, deixar de avalisar com a vossa presença a política dos direitistas de vários matizes!

Quebrai as amarras que ainda vos prendem aos partidos do grande capital e vinde connosco!

Vinde connosco também vós, Amigos que quereis prestar homenagem aos homens que fizeram o 25 de Abril.

A melhor homenagem que podeis prestar aos patriotas militares que fizeram o 25 de Abril é votar em quem, muitos anos antes do 25 de Abril, já dirigia lutas populares contra o fascismo e contra a guerra! É votar em quem, depois do 25 de Abril continua dirigindo lutas populares pela consolidação das conquistas revolucionárias rumo ao socialismo! É votar em Octávio Pato que, no passado, enfrentando a PIDE e os Tribunais e prisões fascistas, dentro das prisão ou fora dela, nas condições duras da clandestinidade, nunca desistiu de ocupar com honra o seu posto de combate na luta pela Democracia, pela Paz e pelo Socialismo! É votar em Octávio Pato que, hoje, como ontem, amanhã como hoje, continuará ao lado do Povo, lutando pela Democracia, pela Paz e pelo Socialismo! Por uma política de independência nacional e boas relações com todos os Povos!

Octávio Pato, destacado dirigente do PCP, não é candidato apenas do PCP, é antes o candidato que o PCP oferece às classes trabalhadoras, às massas populares para, neste momento histórico, consolidar e prosseguir o processo democrático em curso na nossa pátria, lutar pela unidade da classe operária, cimentar a aliança do Povo e das Forças Armadas assente nos princípios libertadores do 25 de Abril, aplicar de defender a Constituição da República, lutar pela formação de um governo de esquerda, com larga participação de socialistas e comunistas.

Octávio Pato, Amigos, é o candidato que o PCP ofereceu ao Povo para consolidar as conquistas revolucionárias e avançar rumo ao socialismo.

Por isso mesmo, obrigado, PCP

Viva a candidatura de Octávio Pato!

Viva a unidade da esquerda para a formação de um governo de esquerda!

Viva Portugal!

José Morgado