segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Hugo Baptista Ribeiro matemático português que só pôde ensinar numa Universidade portuguesa depois do 25 de Abril


Hugo Baptista Ribeiro

Matemático português que só pôde ensinar numa Universidade portuguesa depois do 25 de Abril

(Publicado no Boletim da SPM – nº 12, Março de 1989)

Zaluar Nunes, Hugo Ribeiro e José Morgado

Em 26 de Fevereiro de 1988, faleceu Hugo Baptista Ribeiro.

A comunidade matemática portuguesa perdeu assim um dos elementos que mais se distinguiram, na década de 40, pelos seus trabalhos de investigação e pela sua actividade em defesa de uma melhor preparação científica e de melhores condições de trabalho dos professores de Matemática do nosso País.

Conheci pessoalmente Hugo Ribeiro em fins de 1942.

Juntamente com os meus amigos Laureano Barros e Fernando Soares David, conseguimos umas boas dezenas de assinantes para a revista Gazeta de Matemática, entre os nossos colegas do Curso de Matemática da Faculdade de Ciências do Porto. Alguns meses depois, Hugo Ribeiro e Zaluar Nunes tiveram de vir ao Porto contactar com professores e assistentes que trabalhavam no Centro de Estudos Matemáticos do Porto (fundado por Ruy Luís Gomes em Fevereiro do mesmo ano) e quiseram conversar com os estudantes que tinham angariado tantos(!) assinantes e que, por essa forma, tinham ajudado a ultrapassar algumas dificuldades financeiras que estavam então afligindo a direcção da Gazeta.

De vista, já nós conhecíamos Hugo Ribeiro.

Com efeito, em Junho de 1942, tinha-se realizado na Faculdade de Ciências do Porto o Congresso Luso – Espanhol para o Progresso das Ciências e tínhamos assistido à secção em que Hugo Ribeiro apresentou a sua comunicação. Tratava-se de alguns resultados que obtivera, em colaboração com António Aniceto Monteiro, sobre operadores de fecho em Sistemas Parcialmente Ordenados, resultado que foram depois publicados na revista Portugaliae Mathematica. (vol.3 (1942), pp 177 – 184)

*

Amigo e colaborador de António Aniceto Monteiro, sempre Hugo Ribeiro apoiou activamente as suas iniciativas no sentido de despertar o interesse dos jovens pela Matemática e fomentar o gosto pela investigação, nomeadamente as iniciativas que conduziram à criação das revistas Gazeta de Matemática e Portugaliae Mathematica, à fundação do Centro de Estudos Matemáticos de Lisboa e da Sociedade Portuguesa de Matemática.

A Gazeta de Matemática, jornal especialmente destinado a melhorar a preparação matemática dos estudantes, foi fundada em 1940, por António Monteiro, Bento Caraça, Hugo Ribeiro, José da Silva Paulo e Manuel Zaluar Nunes.

Na Gazeta publicou Hugo Ribeiro artigos de Matemática, de feição elementar, como, por exemplo.

- Aplicações do Cálculo das Probabilidades à resolução de um problema de Biologia, em colaboração com A. Quintanilha e L. W. Stevens (Gaz. Mat., nº 10 (1941), pp. 4 -8)

-Notícia de um problema de Geometria e duma memória de Euler (Gaz. Mat. Nº 16 (1943), pp. 2 -3)

- Que é um quadriculado? (Gaz. Mat. Nº 27, (1946), pp 3 -5)

E publicou também outros artigos expositórios, de feição possivelmente menos elementar, tais como:

- Nota I (Gaz. Mat., nº 40 (1949), pp 19) em que se dá uma demonstração mais simples, de um resultado de Maurício Matos Peixoto, contido no artigo “Uma desigualdade entre números positivos” (Gaz. Mat. Nº 37 – 38 (1948), pp. 19 – 20);

- A classroom note on the proof of shur’s lemma (Gaz. Mat., nº 58 (1954), p. 11), apresentado, em 1951, no Encontro da Secção de Nebraska da Matemátical Association of America;

- Linguagens elementares e estruturas matemáticas (Gaz. Mat. Nº 113 -116 (1969), pp. 1 -8)

Mas oseu trabalho na Gazeta não se limitou a publicar artigos interessantes de Matemática, mais ou menos elementares. Por períodos mais ou menos longos, assumiu também a responsabilidade de uma Secção, como, por exemplo, a secção Temas de Estudo (ora isoladamente, ora em conjunto com o Centro de Estudos Matemáticos do Porto e a secção Movimento matemático (em colaboração com António Monteiro).

António Monteiro atribuía especial importância a esta secção.

De facto, num artigo publicado na Gazeta de Matemática, nº 10 (1942), pp 25 -26, escreveu:

«Pensou-se há algum tempo em publicar um jornal – que teria por título Movimento Matemático – destinado a lançar uma campanha para uma reforma dos estudos matemáticos em Portugal e a fazer propaganda das principais correntes do movimento matemático moderno.

Parece-me evidente a necessidade de publicar um tal jornal, precisamente porque o nosso país anda longe das correntes vitais do pensamento matemático moderno e porque o nosso ensino das ciências matemáticas necessita de uma remodelação completa: remodelação dos programas de estudo, da organização da licenciatura em Ciências Matemáticas, da preparação dos professores do ensino secundário, das provas de doutoramento e dos métodos de recrutamento do pessoal docente universitário.

É indiscutível que assistimos hoje ao nosso país a uma verdadeira efervescência da actividade no campo das Ciências Matemáticas.»

E depois de referir vários acontecimentos que corroboravam esta última afirmação, António Monteiro acrescentou:

«O desenvolvimento rápido da Gazeta de Matemática – em particular, a partir do início do presente ano lectivo – tornou possível o alargamento imediato da sua acção cultural e daí nasceu a ideia – para evitar uma dispersão de esforços que o momento actual não permite – de criar na Gazeta uma secção em que se desenvolveria pouco a pouco o plano de acção que se pretendia realizar no Movimento Matemático. É esta a origem desta secção que se iniciou no nº 9 da Gazeta.»

*

Hugo Ribeiro colaborou também, ainda que acidentalmente, nas secções Antologia, Boletim Bibliográfico e Pedagogia.

Para a secção Antologia, por exemplo, traduziu e publicou (Gaz. Mat. nº 4 (1940), p. 3) “Do Integral de Riemann ao Integral de Lebesgue”, extracto de uma conferência de Henri Lebesgue realizada em Copenhague e publicada na Revue de Mathematique et de Morale, 2 (1927).

Na secção Boletim Bibliográfico, publicou (Gaz. Mat., nº 32 (1947), p. 24) uma crítica ao livro de A. C. Aitken, “Determinants and Matrices”, 4ª ed., da colecção Univerty Mathematical Texts, crítica que tem um interesse especial por dar a conhecer o tipo de preocupações pedagógicas que Hugo Ribeiro sempre teve. A crítica começa logo por afirmar que

«Ensinar não é, propriamente, o objectivo deste livrinho»

e explica, em seguida, a razão desta afirmação:

«Contém matéria geralmente conhecida exposta de um modo que não tende a provocar o estudo próprio, nem mesmo progressivos comentários.»

E continua a sua apreciação, dizendo:

«Também não é, precisamente, um livro de Matemática: Trata-se de “a code and a calculus” de alguns capítulos de Álgebra Linear, onde ficam por esclarecer as ideias fundamentais. (…) não responde suficientemente a questões tais como: o que é uma matriz? Qual a medida do interesse da noção de determinante? Mas trata das regras que usualmente se aplicam ao cálculo de determinantes e nas operações entre matrizes (…). Da matriz como representação duma transformação linear, há pouco mais que uma citação inicial; ela é tratada como quadro de números.

Parece-nos evidente que os inconvenientes deste procedimento são análogos aos que resultariam de reduzir os números racionais e suas propriedades algébricas, por exemplo, respectivamente, à especial representação decimal e cálculo com decimais.»

E conclui sua crítica, condescendendo (moderadamente!):

«Mas pode recomendar-se este volume a quem queira ter uma oportunidade de adquirir rapidamente um primeiro treino de cálculo com esse objectivo sem se interessar pelas ideias fundamentais, isto é, dum ponto de vista não matemático»

As afirmações contidas nesta crítica são perfeitamente coerentes com todos os depoimentos de índole pedagógica que Hugo Ribeiro teve oportunidade de fazer, ao longo da sua vida de matemático e professor.

Assim, na secção Pedagogia, publicou um artigo que consideramos muito importante, intitulado “Sobre o treino de estudo dos nossos professores” (Gaz. Mat. nº 19 (1941), pp. 6-8).

Refere-se essencialmente ao treino de estudo adquirido durante o curso. Depois de salientar que grande parte do tempo lectivo da Licenciatura em Matemática (tal como estava organizada em 1944) era ocupada com Física, Mecânica, Mecânica Celeste, Astronomia, Geodesia, Cálculo das Probabilidades (visando especialmente Teoria dos Erros e Técnica de Seguros) e ainda que as noções propriamente matemáticas e certas técnicas gerais de cálculo, em Análise e Geometria, são adquiridas com vista àquelas aplicações matemáticas, Hugo Ribeiro lança a seguinte observação chocante:

«Parece que os nossos professores de Matemática não estudam, normalmente, Matemática, senão na medida em que esta Ciência tem que ver com certas aplicações especiais, certas técnicas, das quais se pode dizer, embora grosseiramente, que não interessam à sua profissão. (Nos liceus normais também não é Matemática, repetimos, mas a técnica do ensino da Matemática elementar, o objectivo das preocupações do futuro professor».

Hugo Ribeiro pensava – e dizia-o claramente! – que o estudo da Matemática, em função apenas de algumas aplicações a outras ciências ou a certas técnicas (de cuja importância duvidava), não beneficiava o necessário desenvolvimento do espírito crítico e agravava tendências, possivelmente existentes, para se deixar cair em mero automatismo.

De resto, para Hugo Ribeiro, «falta de espírito crítico e automatismo em Matemática aparecem naturalmente juntos e significam ignorância e inconsciência da ignorância» como escreveu nesse mesmo artigo.

Preocupado com esta ideia, esclarece:

«Como se sabe, a linha geral do desenvolvimento da Matemática é naturalmente traçada pelo do desenvolvimento social e, mais directamente e frequentemente, a partir das solicitações das técnicas e das ciências a que se aplicam de uma forma imediata. Este facto e o de que a Matemática é, por sua vez, origem de novos problemas e novas soluções no domínio destas ciências e técnicas não se contradizem.

A Matemática é, assim, considerada, tanto quanto isso é possível, um objecto de estudo isolado, independente.»

E, reforçando a ideia contida neste esclarecimento, chama a atenção para as consequências resultantes de tal ideia não ser tida em devida conta.

«E onde ela [a Matemática] assim não for considerada, não só terá o seu desenvolvimento próprio entravado, mas [terá] ainda [entravada] a sua aplicabilidade, diminuída a sua qualidade de reveladora de falta de falta de espírito crítico e [reveladora] do automatismo, etc. Os estudos matemáticos, mesmo os aparentemente e momentaneamente mais afastados das aplicações, ensinam-nos ainda (…) sobre a realidade que é a nossa maneira de pensar. E o conhecimento em Matemática não se adquire sem o exercício continuado do estudo, da resolução da curiosidade própria pelo esforço próprio, que exigem, se querem ser proveitosos, um treino longo convenientemente dirigido, inicial.»

E a propósito, numa nota de fundo de página, recomenda a leitura de um artigo de José Ribeiro de Albuquerque, “Duas demonstrações dum mesmo factor” (Gaz. Mat. nº 16 (1943), pp 3 -5), que termina pelas seguintes palavras: «Em Matemática ou em qualquer outro ramo do saber, mais valioso do que saber, é … saber reflectir»

E, em seguida, Hugo Ribeiro faz duas perguntas bem pertinentes:

«É a Matemática considerada, entre nós, normalmente, como uma ciência em desenvolvimento, sobre a qual há que actuar para a conhecer e que, embora relacionada com outras actividades, tem problemas próprios exigindo um treino especial e aturado, não delimitando (e muito menos normal e estritamente delimitado) pelas ciências e técnicas que ela serve? Este treino, estes problemas, são normalmente abordados pelos que hão-de ensiná-los?»

E, depois de salientar que, entre nós, ambas as respostas a estas perguntas são negativas, Hugo Ribeiro conclui:

«Se está, de facto, em causa uma tal oposição entre concepções tão distintas do estudo da Matemática (esta distância fornecerá uma primeira medida de novo atraso neste campo), a resolução de tal oposição é um problema primário; e, sem ela, são ilusórias, por longínquas, as posições da maioria dos outros problemas pedagógicos, como os de programas, métodos especiais, etc., etc.

O remédio, para esta causa especial, consistia em, sistematicamente, fornecer aos futuros e actuais professores uma preparação eficaz (…) com a frequência intensiva de seminários, dos mais diversos níveis, orientados por autênticos estudiosos.»

Naturalmente, Hugo Ribeiro teria ainda hoje muito a dizer no que respeita à formação de muitos professores de Matemática, conquanto a Universidade de hoje em Portugal seja bastante diferente, em alguns aspectos, da Universidade de 1944. É que, como se sabe, há professores de Matemática do Ciclo Preparatório que são licenciados em Biologia ou Geologia, cuja preparação matemática universitária se reduziu a uma disciplina anual ou duas semestrais, de Matemática, ensinada com vistas, exclusivamente, à sua possível utilização em Biologia ou Geologia. Outros, de formação mais recente, tiveram apenas uma disciplina semestral de Matemática para Biólogos e uma outra, semestral, de Bioestatística

Quanto a professores de Matemática do ensino secundário, há alguns cuja formação universitária é de engenheiros, tendo a sua preparação matemática consistindo apenas em cinco ou seis disciplinas semestrais de Matemática, ensinadas com vista, exclusivamente, à sua possível utilização em Engenharia! Esse conjunto de cinco ou seis disciplinas semestrais não compreende habitualmente nenhuma de Geometria e, com respeito à Álgebra, há apenas uma onde se dá um pouco de Álgebra Linear.

Em suma, ainda hoje é legalmente possível que um estudante que pretenda seguir uma licenciatura em Matemática entre na Universidade sem nunca ter tido uma única aula de Matemática dada por quem profissionalmente se tenha preparado para ser professor de Matemática! …

*

O nome de Hugo Ribeiro figura ainda, ao lado dos nomes de José da Silva Paulo e Manuel Zaluar Nunes, como cooperador de António Monteiro na edição da revista Portugaliae Mathematica, a partir de vol. 1, 2ª parte, fascículo 2 (1940).

No vol. 4, figura também, como cooperador, o nome de Ruy Luís Gomes e, a partir do vol. 5 (1946), aparece constituído o Corpo Directivo da Portugaliae Mathematica, com a seguinte composição: A. Monteiro, Hugo B. Ribeiro, José S. Paulo, M. Zaluar Nunes e Ruy Luís Gomes.

A partir de 1974, os componentes do Corpo Directivo figuram com constituindo o Corpo Directivo Fundador e aparece José Gaspar Teixeira como Director.

Na verdade, em consequência do falecimento de Zaluar Nunes, em 30 de Outubro de 1967, Gaspar Teixeira, que já antes assumira o encargo de dirigir a Gazeta de Matemática e a Tipografia Matemática, sentiu-se forçado a assumir também a tarefa de dirigir, desde então, a Portugaliae Mathematica. O último volume que dirigiu foi o nº 35 (1976).

Após a doação da Portugaliae à Sociedade Portuguesa de Matemática, feita por António Monteiro, os constituintes do Corpo Directivo Fundador passaram a ser designados por Fundadores e formou-se uma Comissão Editorial Executiva, composta por Alfredo Pereira Gomes (Director), Graciano N. de Oliveira, João Paulo Dias e Maria Luísa Noronha Galvão. Pouco depois, esta Comissão, a que se juntou Luís Sanchez, passou a chamar-se Comissão Editora e constituiu-se um Conselho Editorial, com matemáticos portugueses e estrangeiros.

A Comissão Editora procurou regularizar a publicação da Portugaliae, eliminando os atrasos que, havia já alguns anos , se vinham verificando, e procurou defender o nível científico da revista, submetendo os artigos enviados para publicação à apreciação prévia de “referees”. Como resultado desta orientação, a Portugaliae melhorou, de facto, o seu nível ciestífico, aumentou substancialmente o número de páginas por volume e está, finalmente, sendo publicada sem atrasos.

Em suma, a Portugaliae, presentemente, está correspondendo melhor aos objectivos para foi criada.

E quais são esses objectivos?

No artigo de Hugo Ribeiro intitulado “O que é a “Portugaliae Mathematica”?”, publicado no nº 17 da Gazeta, em Novembro de 1943, esclarece que a Portugaliae é

«a única revista portuguesa que publica, exclusivamente, trabalhos originais de Matemática»

E declara-se que a Portugaliae

«quere reflectir com justeza o desenvolvimento dos estudos matemáticos em Portugal; com este fim, reeditou já os trabalhos que o professor Mira Fernandes publicara em revistas estrangeiras. Quere também servir o desenvolvimento da colaboração internacional; e, neste sentido, no interesse evidente dos estudiosos portugueses, tem publicado (com uma frequência cada vez maior em cada novo volume) memórias vindas de diversos centros estrangeiros: de Cluj, na Roménia; de Roma; de Madrid; de Paris; de Princeton; de Rosário, Argentina; de Salamanca; de Zurique, etc. Entre os colaboradores permanentes figuram já Matemáticos aos quais a Ciência deve contribuições das mais importantes: o francês Maurice Fréchet, o americano John von Neumann, etc. é decerto escusado sublinhar a utilidade desta cooperação, sobretudo para o desenvolvimento dos estudos matemáticos em Portugal. O Professor Heinz Hopf, da Escola Politécnica Federal de Zurique, colaborador de muitas das mais importantes revistas de Matemática, e que é agora também colaborador permanente da Portugaliae Mathematica, e desinteressado e activo cooperador da sua expansão, considera-a uma publicação hoje excepcional, pela sua regularidade e pela diversidade de origem dos seus colaboradores e variedade do seu conteúdo.»

É preciso não esquecer que estas afirmações de Heinz Hopf foram feitas em 1943, em plena segunda guerra mundial, guerra em que Portugal não participou directamente, numa altura, portanto, em que era difícil, ou mesmo impossível, manter em dia revistas científicas de países beligerantes.

Poucos anos mais tarde , a situação da Portugaliae modificou-se para pior, sobretudo após a grande ofensiva fascista contra os trabalhadores científicos e contra as Universidades portuguesas, no ano de 1947.

A dispersão dos trabalhadores científicos provocada por esta e outras ofensivas reflectiu-se inevitavelmente e duramente na vida das revistas Portugaliae Mathematica e Gazeta de Matemática, prejudicando gravemente a sua expansão, a sua regularidade, a sua influência – recuperadas (para a Portugaliae), depois do 25 de Abril, pela Comissão Editora.

*

A acção desenvolvida por Hugo Ribeiro a favor da Portugaliae assumiu vários aspectos:

a) Colaboração intensa, sobretudo nos primeiros volumes, onde publicou os seguintes trabalhos:

- Sur l’axiomatique des espaces topologiques de M. Fréchet, vol. 1 (1940), pp. 259 – 274;

- Sur l’axiomatique dês espaces (V), (em colaboração com António Monteiro), id., id., pp. 275 - 288;

- Caractérisations dês espaces réguliers normaux et complètement normaux au moyen de l’opération de dérivation, vol 2 (1941), pp. 13 – 19;

- La cohérence d’un ensemble et les ensembles denses en soi, id., id., pp. 67 – 76;

- Quelques propriétés dês espaces (Cf) (em colaboração com Armando Gibert), id., id., pp. 110 -120;

Une estension de la notion de convergence, id., id., pp. 153 – 161;

- L’opération de ferture et ses invariants dans les systèmes partiellement ordonnés (em colaboração com António Monteiro), vol. 3 (1942), pp. 171 – 184.

- Sur les espaces à métrique faible, vol. 4 (1943), pp. 21 -40;

- Corretions à la note “Sur les espaces à métrique faible”, id., id., pp. 65 -68;

b) Permanente disponibilidade para analisar e discutir os problemas da Portugaliae;

c) Diligências no sentido de conseguir que matemáticos estrangeiros de grande prestígio enviassem trabalhos seus para publicação na Portugaliae;

d) Diligências no sentido de conseguir que revistas de matemática bem conceituadas pelo seu nível científico aceitassem troca com a Portugaliae.

O penúltimo artigo que Hugo Ribeiro publicou na Portugaliae foi incluído no vol. 39 (1980), dedicado à memória de António Monteiro, falecido em 29 de Outubro de 1980, em Bahia Blanca (Argentina). O artigo intitula-se “Actuação de António Aniceto Monteiro em Lisboa entre 1939 e 1942” e é bem um testemunho da amizade e admiração que sempre teve por Aniceto Monteiro.

Antes da actuação de António Monteiro, qual era a situação da Matemática em Portugal?

Hugo Ribeiro, nesse artigo, responde:

«Com uma ou outra excepção, a Matemática (pura) não era cultivada em Portugal e, assim, as escolas superiores limitavam-se a preparar professores das escolas secundárias, ou técnicos e cientistas que porventura a utilizariam. Foi nesta atmosfera , enormemente agravada pela opressão da ditadura e as guerras civil de Espanha e na Europa, que Monteiro, não participante do ensino oficial, fez entrar uma lufada de ar fresco impulsionando decididamente a Matemática neste país. Este meu breve testemunho refere-se simplesmente ao Período 1939 -1942 em Lisboa onde ele criou as bases do desenvolvimento então impensáveis.»

Depois de mencionar várias iniciativas de Monteiro, Hugo Ribeiro termina o seu artigo declarando:

«Tudo isto impulsionou, decerto, o aparecimento e, depois, desenvolvimento das publicações matemáticas do Porto, da Portugaliae Physica, da Gazeta de Física, da Revista de Economia; e o contacto saudável, embora mais difícil, com outros centros de investigação que se tinham formado, como o da Estação Agronómica Nacional, contribuía para abrir perspectiva muito prometedoras e únicas no desenvolvimento do país.

Desenvolvia-se a correspondência com matemáticos estrangeiros, alguns dos quis enviavam trabalhados para a Portugaliae Mathematica, e Monteiro incitava-nos a comunicar com os provavelmente interessados no que fazíamos. Fréchet, Fantappié e Seviri vieram fazer lições no Centro. Monteiro conseguia para nós bolsas do IAC no estrangeiro. Mas a guerra na Europa e a burocracia eram dificuldades impossíveis ou difíceis de ultrapassar. Em 1942 um de nós foi para Zurique e três outros para Roma. De fora das escolas as portas para o futuro da Matemática em Portugal tinham sido, decidida e largamente, abertas, pelos esforços, dedicação e coragem de António Monteiro. Mais tarde, decerto com melhores oportunidades, um de nós, José Sebastião e Silva pôde manter aqui uma brisa desse ar fresco que, 40 anos depois, ainda podemos respirar.»

*

Em 1942, Hugo Ribeiro foi estudar para Zurique (Escola Politécnica Federal), como bolseiro do Instituto para Alta Cultura [IAC], até 1946, data 1946, data em que obteve o seu doutoramento, mediante a defesa da tese “Lattices dês groupes abéliens finis”, publicada depois na revista Commentarii Mathematici Helvetici, vol. XXIII (1949), pp 1 -17.

Enquanto esteve na Suíça, juntamente com sua esposa, Maria do Pilar Ribeiro, um e outro continuaram a participar, tanto quanto possível, na actividade matemática que se desenvolvia em Portugal, muito especialmente em actividade ligada à Gazeta de Matemática.

Com efeito, foi nesse período que Hugo Ribeiro publicou na Gazeta o artigo (tão necessário!) a que já fizemos referência, ”Sobre o treino de estudo dos nossos professores”, e foi nesse período que Maria do Pilar Ribeiro publicou uma série de artigos de um interesse cuja a importância é hoje difícil avaliar.

Tratava-se de artigos que nos davam informações bastante pormenorizadas acerca do ensino da Matemática na Suíça. Por seu intermédio, podíamos ficar com uma ideia de como o nosso ensino liceal e universitário estava desactualizado, quer em conteúdos, quer em métodos.

Sob o título geral “Sobre o ensino da Matemática na Suíça”, Maria do Pilar Ribeiro publicou artigos extraordinariamente úteis na Gazeta de Matemática nº 12 (1942), pp. 20 -22, nº 13 (1943), pp18 -19 e nº 14 (1943), pp. 13 -15. Com estes artigos, Maria do Pilar Ribeiro pôs ao alcance dos estudantes portugueses de Matemática informações preciosas, que tinham, pelo menos, a utilidade de apontar algo do muito que devíamos ter aprendido… No nº 24 (1945), pp. 15 -17, publicou mais um artigo, “Notícia sobre o ensino da Matemática em Zurique”, acompanhado de alguns pontos de exame do ensino secundário, de Matemática e Geometria Descritiva, sobre o que era exigido para a matrícula nas Universidades e Escola Politécnica Federal de Zurique (pp 17 – 19). No nº 19 (1944), pp11 – 14, publicou ainda uma tradução do panfleto “Conselhos aos estudantes da Secção de Matemática e Física da Escola Politécnica Federal de Zurique”, contendo recomendações muito esclarecedoras de como se processava o ensino em Zurique.

Por seu lado, Hugo Ribeiro publicou no nº 26 (1945) pp. 17 -19, um artigo de grande interesse, intitulado “Sobre a índole do ensino da Matemática em Zurique”, onde pode ler-se o seguinte:

«A formação “tão universal quanto possível em Matemática” que as duas escolas de Zurique dão ao matemático, em especial ao futuro professor de Matemática de qualquer escola superior ou média, pode talvez descrever-se grosseiramente pelos três seguintes objectivos que sucessivamente se devem atingir com o estudo e pelos adequados tipos de actividade e meios à disposição dos estudantes. O primeiro objectivo é o domínio de uma perfeita técnica de cálculo e da construção geométrica e obtém-se sobretudo nas lições e pró – seminários de Cálculo diferencial e integral e da Geometria descritiva e vectorial, lições fixas e comuns a físicos, engenheiros, etc. (1º e 2º semestres). O segundo objectivo é o perfeito conhecimento da estrutura (moderna!) dos capítulos basilares da Matemática, o domínio das principais noções e resultados e a compreensão dos problemas actuais e do desenvolvimento de cada teoria; isto consegue-se nos seminários e nas lições dos semestres seguintes, sobre Teoria das funções (3 semestres), Álgebra Linear, Geometria projectiva, Geometria diferencial, Álgebra, Equações diferenciais. O terceiro objectivo é o alargamento dos objectivos anteriores a um extenso conjunto de capítulos especiais, muitos dos quais à escolha, nos quais se pode desenvolver a curiosidade orientada e orientada e o trabalho próprio. Nunca antes dos 8 semestres faz o estudante o seu exame, depois de ter elaborado o trabalho de diploma que geralmente o ocupa durante um dois ou dois semestres. Este trabalho de diploma não inclui necessariamente um resultado original, mas é, antes, um estudo escolhido com um professor e orientado por este, frequentemente sobre alguma questão mal esclarecida na literatura.»

E o artigo termina, focando aquilo que mais o preocupava, aquilo que sempre o preocupou – os estudos matemáticos em Portugal:

«A formação matemática dos nossos professores de Matemática, das Universidades e das escolas médias é, para nós, o problema fundamental dos nossos estudos matemáticos. Em primeiro lugar, até, porque as importantes questões, de organização, de programas, etc. só poderão ser resolvidas convenientemente, cientificamente, por matemáticos experientes e a pouco e pouco, na medida em que estes existem no nosso país. Em segundo lugar, porque, sem professores com preparação científica, estas outras questões constituem ainda, de certo modo, pseudoproblemas, porque a sua resolução, não podendo traduzir-se através de uma actividade pedagógica autêntica, não terá valor efectivo.

Parece-nos evidente que os jovens que se propõem estudar Matemática para se tornarem professores, ou simplesmente investigadores, têm, antes do mais, que abandonar, decididamente, qualquer tipo de aprendizagem passiva e livresca

*

Regressados a Portugal em fins de 1946, Hugo Ribeiro e Maria Pilar Ribeiro retomam imediatamente as suas actividades de militância no movimento matemático português. No mesmo número da Gazeta (nº 30 (1946)) em que se noticiava que, em 7 de Outubro de 1946, Hugo Ribeiro se tinha doutorado na Escola Politécnica Federal de Zurique e que os referentes da sua tese tinham sido P. Bernays e H. Hopf, mencionava-se já Hugo Ribeiro como responsável pela secção Temas de Estudo (juntamente com o Centro de Estudos Matemáticos do Porto) e mencionava-se também Maria do Pilar Ribeiro como responsável pela secção Matemáticas Elementares (juntamente com A. Lopes e J. da Silva Paulo).

Em Janeiro de 1947, são ambos eleitos para direcção da Sociedade Portuguesa de Matemática: Hugo Ribeiro para Secretário-Geral e Maria do Pilar Ribeiro para 1º Secretário.

Numa das primeiras reuniões da nova direcção da S.P.M., Hugo Ribeiro apresentou um projecto de plano de trabalhos e dele constava, além do mais, a proposta de se publicar uma tradução, para a nossa língua, da 2ª edição alemã da célebre Álgebra Moderna de Van der Waerden e também a proposta de se publicar uma tradução, para nossa língua, de não menos célebre obra de Hilbert, Fundamentos da Geometria. Hugo Ribeiro encarregar-se-ia da tradução do livro de Van der Waerden e Maria do Pilar, com a colaboração de José da Silva Paulo, encarregar-se-ia da tradução do livro de Hilbert.

É claro que estas propostas e todo o plano de trabalhos foram entusiástica e nanimemente aprovados.

Não era possível exagerar a importância que estas traduções viriam a ter para a cultura matemática portuguesa, dadas, por um lado, a pobreza da nossa literatura matemática e, por outro lado, a importância histórica que estas obras tiveram par o estudo da Álgebra e para o estudo dos Fundamento da Matemática.

Empenhou-se também, Hugo Ribeiro em reactivar o Centro de Estudos Matemáticos de Lisboa, que existia desde 1940. António Monteiro saíra de Portugal em 1945, a fim de ir trabalhar par o Brasil. Em consequência da sua posição antifascista, não consiguira uma colocação em nenhuma Universidade portuguesa. Precisando naturalmente de ganhar o seu pão pelo trabalho matemático, viu-se forçado a aceitar o convite da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil (hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro) para integrar o corpo docente daquela Faculdade. Alguns anos depois foi para a Argentina, acabando por se fixar na Universidade de Bahia Blanca, até à sua jubilação.

Com a saída A. Monteiro e a ida para Itália, como bolseiros, de alguns dos trabalhadores científicos do Centro, a actividade matemática em Lisboa diminuiu muito.

Antes da sua ida para Zurique, Hugo Ribeiro tinha trabalhado intensamente no Centro. Assim, em Novembro e Dezembro de 1941, realizou quatro conferências sobre a noção de Vizinhança e sobre o Objectivo da Tipologia Geral. Em Janeiro de 1942, realizou uma conferência sobre Espaços de Kuratowski. No Seminário de Análise Geral, a partir de Março de 1942, realizou colóquios sobre Estruturas da Lógica Clássica e Intuicionista e, em colaboração com Zaluar Nunes, realizou colóquios sobre Fundamentos modernos do Cálculo das Probabilidades. Pouco depois do seu regresso de Zurique, pôs a funcionar um Seminário de Álgebra, um Seminário de Fundamentos da Geometria e iniciou uma série de lições de Álgebra Linear para matemáticos e físicos.

Estas actividades funcionavam no Laboratório de Física da Faculdade de Ciências de Lisboa, mas já atrás referimos, o fascismo desencadeou em 1947, uma grande ofensiva contra os trabalhadores científicos e contra as Universidades.

De facto, a Polícia de Segurança Pública e a Pide, violando a própria “legalidade” fascista, invadiram a Faculdade de Medicina de Lisboa, invadiram inclusivamente salas de aula, gabinetes e laboratórios espancaram e prenderam estudantes, agrediram professores, incluindo o próprio Director da faculdade. Foi nesse ano de 1947, em meados de Junho, que, por Nota Oficiosa do Conselho de Ministros, foram expulsos cerca de duas dezenas de professores e assistentes universitários, conhecidos como democratas. Alguns assistentes viram nesse ano os seus contratos rescindidos, outros viram seus contratos não renovados, outros foram impedidos de entrar para o corpo docente universitário, por mera informação da Pide. Muitos licenciados foram impedidos de trabalhar até no ensino particular, porque lhes foi negado o necessário diploma de ensino particular.

Estas ofensivas contra os trabalhadores científicos e contra as universidades são amplamente referidas em vários artigos do saudoso amigo, historiador, Joaquim Barradas de Carvalho, publicados no jornal dos democratas portugueses residentes no Brasil, o “Portugal Democrático”.

No nº 85, de Agosto de 1964, no artigo intitulado “Os quadros Universitários”, escreveu Barradas de Carvalho:

«Uma das principais vítimas do obscurantismo salazarista tem sido a Universidade, e um dos principais meios de acção desse obscurantismo as “limpezas” sucessivas a que ela tem sido submetida. Às demissões isoladas sucedem-se as demissões colectivas e a estas sucedeu um apertado policiamento na admissão de professores. A P.I.D.E. (Polícia Internacional e de Defesa do Estado) passou a desempenhar mais do que importante, porque mesmo decisivo, na admissão de professores nos quadros docentes das Universidades

Em mais de trinta anos de regime salazarista, a Universidade portuguesa tem sofrido golpes só comparáveis aos sofridos pela Universidade alemã nos tempos de Hitler, pela Universidade italiana nos tempos de Mussolini ou pela Universidade espanhola no período de instauração do regime de Franco.

(…) Entre os professores universitários demitidos pelo regime de Salazar encontramo-los de todos os credos políticos e religiosos, não faltando mesmo no amplo naipe os monárquicos e os católicos. Mas se o regime salazarista não distinguiu entre os credos políticos e religiosos, alguma coisa ele distinguiu e bem: a competência científica e docente dos atingidos. Não sofre dúvidas para ninguém, nem para a própria minoria salazarista, que os demitidos parecem ter sido cuidadosamente escolhidos entre os melhores quadros científicos e docentes das já pobres Universidades portuguesas.

(…) A lista mais numerosa [dos docentes expulsos] é a dos matemáticos, todos das Universidades de Lisboa e do Porto.»

E depois de citar uma dúzia de matemáticos expulsos, fala de António Monteiro e Hugo Ribeiro.

«Nem António Aniceto Monteiro nem Hugo Ribeiro, depois de doutoramentos em grandes centros matemáticos do estrangeiro, e com as mais altas classificações, de trabalhos de pesquisa de renome internacional, conseguiram ser admitidos nos quadros docentes das Universidades portuguesas.»

Este artigo e vários outros de Barradas de Carvalho, publicados no Portugal Democrático, foram reunidos num volume, “O Obscurantismo Salazarista”, editado pela Seara Nova, em 1974, depois do 25 de Abril.

O nome de Hugo Ribeiro é referido em outros artigos deste mesmo livro: Investigadores que não puderam trabalhar na Universidade Portuguesa; Mais Notas Sobre a Investigação Científica sob o Salazarismo; Ruy Luís Gomes; Caetano Professor.

Hugo Ribeiro, após o regresso de Zurique, requereu, como era normal, equivalência do seu doutoramento ao grau de doutor pela Universidade portuguesa, mas o Ministério dito da Educação nem sequer deu resposta.

Zaluar Nunes propôs a sua entrada como assistente (!) para o Instituto Superior de Agronomia, onde era professor. A proposta não teve seguimento e Zaluar Nunes foi um dos expulsos pela Nota Oficiosa de Junho de 1947.

Os centros de Matemática, na sequência das acções repressivas levadas a cabo pelo fascismo, ficaram paralisados, praticamente esvaziados, desapareceram. Hugo Ribeiro procurou ainda reactivar o Centro de Estudos Matemáticos de Lisboa, mediante diligências feitas no Instituto para a Alta Cultura, mas o clima de feroz repressão, por um lado ,e a incompreensão de alguns trabalhadores científicos, por outro, não viabilizaram as suas diligências.

Os Seminários deixaram de se poder fazer no Laboratório de Física, porque os físicos que facilitaram a sua realização nas dependências do Laboratório tinham também sido expulsos pela Nota Oficiosa.

Em face disto, os Seminários ainda continuaram, por algum tempo, na própria casa de Hugo, no Murtal, S. Pedro do Estoril; mas acabaram por parar também, até pela chegada das férias grandes e a consequente dispersão de alguns dos interessados.

E assim, Hugo Ribeiro, doutorado em Zurique, prémio Artur Malheiros, com um currículo valioso, com grande capacidade de trabalho e iniciativa, profundamente interessado no fortalecimento do movimento matemático português, viu-se forçado, para continuar a trabalhar em Matemática, a aceitar um posto de trabalho na Universidade da Califórnia, em Berkeley. Passou depois por outras Universidades americanas, como a University of Nebraska e a Pensylvania State University, University Park, Pa. Colaborou noutras revistas além da Gazeta de Matemática e da Portugaliae Mathematica: Revista da Faculdade de Ciências de Lisboa, Summa Brasiliensis Mathematica, American Journal of Mathematics, Archiv für mathematische Logik und Grundiagenforschung, Algebra i Logika (Novosibirsk, URSS). Publicou também um número considerável de notícias críticas de trabalhos de Lógica e de Álgebra, no Journal of Symbolic Logic e em Mathematical Reviews. Resumos de comunicações suas apareceram em Las Ciencias, de Madrid; Notices of the American Mathematical Society, Summaries of the Summer Institute for Symbolic Logic na Cornell University, 1957; Trabalhos do Congresso Internacional de Matemática, Moscovo, 1968, etc.

Em 1960, nos meses de Julho e Agosto, tivemos a alegria de voltar a conviver com o casal exemplar e amigo, Hugo e Pilar, em Recife. É que, devido essencialmente à iniciativa de Zaluar Nunes e Alfredo Pereira Gomes, foi possível conseguir que Hugo Ribeiro estivesse na Universidade Federal de Pernambuco, como professor visitante. Fez então um curso de Grupos Abelianos Infinitos e várias conferências sobre temas de Lógica Matemática.

Reencontrámo-nos, 10 anos depois, em Nice, no Congresso Internacional de Matemáticos.

Após o 25 de Abril, precisamente em Novembro de 1975, Hugo Ribeiro e Maria do Pilar Ribeiro, já aposentados como professores nos Estados Unidos, foram à Reitoria da Universidade do Porto, oferecer os seus serviços docentes, uma vez que se sentiam com saúde e com muita vontade de trabalhar em Portugal.

A Universidade do Porto não podia perder (e não perdeu!) esta oportunidade.

Hugo Ribeiro e Maria do Pilar Ribeiro ensinaram Matemática nesta Universidade durante quatro anos.

Durante quatro anos, a actividade matemática da Faculdade de Ciências do Porto pôde beneficiar do seu espírito de colaboração, do seu saber, da sua experiência.

Assim, só depois do 25 de Abril pôde Hugo Ribeiro ensinar numa Universidade Portuguesa e, para nosso contentamento, essa Universidade foi a Universidade do Porto.

José Morgado