sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Intervenção no Pavilhão do Académico na Campanha Eleitoral da APU para a Assembleia da República em Novembro de 1979

Amigos!

Estamos praticamente no final da campanha eleitoral para a Assembleia da República.

No próximo domingo, por esta hora, já o Povo Português terá infligido uma tremenda derrota à reacção – a maior derrota dos reaccionários após o 25 de Abril. Em nossa opinião, os partidos da direita, a que se colaram tantos indivíduos que se dizem monárquicos e ainda uns outros que, sem que se perceba porquê, se apelidam, a si mesmos, de reformadores, vão ter menos votos e menos deputados do que os conseguidos por tais partidos em eleições anteriores.

Os reaccionários continuarão em minoria na assembleia da República e, dentro em pouco, quem sabe se não irão recriminar-se uns aos outros, atribuindo-se mutuamente as culpas da derrota – isto porque talvez se não atrevam a responsabilizar os orientadores estrangeiros que, afina, não terão sabido orientar-lhes a campanha eleitoral …

Estamos certos de que se tornará evidente para todos, de que de nada serviram os orientadores estrangeiros, bem treinados, no entanto, como manipuladores de opinião; de muito pouco terão valido os vistosos desfiles à americana, as caravanas ruidosas de carros de luxo, os transportes públicos para comícios, a imprensa reaccionária sempre disposta a faltar à verdade e a violar a lei democrática, as excursões do trio reaccionário pelas mais diversas regiões do país, as perseguições do trio, em conjunto e em separado, às capitais onde pontificam os governos capitalistas mais à direita, os painéis de cartazes com os retratos dos chefes visíveis da reacção profusamente espalhados por todo o país, as tentativas de montagem de uma questão religiosa, os grupos organizados de desordeiros para assaltarem sedes e impedirem comícios das forças democráticas, as promessas abundantes e aliciantes, as proclamações de ódio ao 25 de Abril, os insultos ao Conselho da Revolução e aos valorosos capitães de Abril, os ataques à Constituição da República!

No próximo domingo, chegaremos à conclusão de que tudo isto terá valido muito pouco, porque o Povo Português está mesmo decidido a não deixar passar o fascismo!

É verdade, meus Amigos, cada vez é maior o número de pessoas que entende que, por detrás dos partidos reaccionários que disputam as eleições atacando o 25 de Abril e a Constituição da República, está o fascismo, está o colonialismo, está o MIRN, está a intervenção estrangeira, está o imperialismo.

E o Povo Português que, durante quase meio século, combateu o fascismo e o colonialismo, defendeu a República, lutou pelas liberdades fundamentais e pela Independência Nacional – o Povo Português não ia agora deixar-se enganar por aqueles que aceitam a companhia e o apoio dos restos fascistas que ainda por aí circulam, não ia agora deixar-se embalar por aqueles que promovem a intromissão dos fascistas e monárquicos espanhóis nos problemas internos de Portugal.

Por isso, o Povo Português vais, serenamente, com o seu voto, no próximo domingo, infligir uma grande e saudável derrota à reacção.

Estamos inteiramente convencidos de que o Povo Português vai votar à esquerda.

Mas, amigos, pode acontecer que os partidos da direita, mesmo em minoria, consigam deitar mão a algumas alavancas do poder.

De facto, embora os partidos da direita tenham estado em minoria na Assembleia da Republica, a verdade é que sempre tiveram em mãos algumas importantes alavancas do poder.

Pois não é verdade que, por intermédio de Sottomayor Cardia, foi a direita quem governou no Ministério da Educação?

Alguém tem agora dúvidas de que não foi a direita quem governou no Ministério da Agricultura e pescas nos tempos Barreto e Vaz Portugal?

E quando o Ministério do Trabalho esteve ocupado por aquele que prometeu quebrar a espinha `Intersindical, foi ou não a direita que governou nesse ministério?

E durante o governo fascizante de Mota Pinto, quem mandou e desmandou na nossa terra se não a direita?

Isto significa que não basta derrotar os partidos reaccionários; não basta conseguir que eles somem menos de 126 deputados na próxima Assembleia da República.

É preciso que, em resultado das próximas eleições para a Assembleia da República, possa formar-se um governo de esquerda, um governo autenticamente de esquerda, um governo que não atraiçoe o espírito da Constituição da República, um governo que se preocupe em criar condições, como manda a Constituição, para o exercício democrático do poder pelas classes trabalhadoras.

Enfim, Amigos, é preciso que possa formar-se um governo que não resolva “meter o socialismo na gaveta”

Ora, para isso, é necessário que exista, na próxima Assembleia da República, uma forte representação da APU; é necessário, em particular, que na próxima Assembleia da República, o grupo parlamentar do Partido Comunista Português tenha um forte poder de decisão, poder que só terá se aumentar sensivelmente o número de deputados.

Infelizmente, a experiência dos últimos anos mostra que um numeroso grupo parlamentar do partido socialista não é suficiente para impedir a formação de governos de direita, não é suficiente para impedir que sejam feitas leis como a chamada lei Barreto, a lei das indemnizações aos grandes capitalistas, a lei Gonelha contra os sindicatos, a lei dos despedimentos, a lei contra as comissões de trabalhadores e tantas outras leis contra o espírito de Abril.

Uma grande votação na APU é essencial para a formação de um governo autenticamente democrático, é essencial para a defesa das conquistas de Abril, é essencial pade ra que novos e decisivos passos se dêem rumo ao socialismo.

Assim, nós os quatro, que os queridos Amigos quiseram distinguir neste jantar de confraternização, dirigimos, por intermédio de todos vós, um vivo apelo ao VOTO NA APU!

Dirigimos um vivo apelo a todos quantos entendem que a tarefa fundamental é o esmagamento eleitoral da reacção, para dêem o seu voto à APU.

Os partidos que se consideram de esquerda e que, de facto, não têm qualquer possibilidade de elegerem deputados em muitos círculos eleitorais, devem desistir e recomendar o voto na APU.

Os antifascistas que acompanharam, nestas eleições, o Partido Socialista ou mesmo o Partido Social Democrata ou até o CDS e estejam desiludidos pela prática política desses partidos, na medida em ela se revelou favorável ao capitalismo monopolista e ao imperialismo, devem votar APU, pois a APU não faz cedências à direita, não faz cedências aos monopolistas, não faz cedências ao imperialismo!

A APU deseja, com o Partido Socialista, com todas as forças democráticas, estabelecer bases de cooperação e entendimento para dotar o nosso país de um governo autenticamente democrático, de um governo digno e sério, de um governo que continue Abril.

Viva a Aliança Povo Unido!

Viva a Vitória Democrática!

Viva Portugal!

José Morgado