segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Vasco Gonçalves Contra a Recuperação Capitalista

Ao longo dos catorze meses que esteve à frente do Governo (desde 18 de Julho de 1974 a 11 de Setembro de 1975), Vasco Gonçalves sempre defendeu a união POVO - MFA.
Quaisquer que tenham sido as dificuldades da sua acção como governante, Vasco Gonçalves sempre foi leal ao MFA. Por isso, a luta pelo fortalecimento da união POVO - MFA foi naturalmente uma constante em toda a sua acção política.

«O MFA não faz revoluções contra o povo, nunca na História se fizeram revoluções contra a vontade do Povo; o que por vezes aconteceu foi classificar-se de revoluções as readaptações das classes dominantes, mas é preciso que a vontade do Povo coincida com os interesses do Povo, sem o que, essa vontade pode tornar-se objectiva e inconscientemente contra - revolucionária.
Os trabalhadores portugueses foram desde o 25 de Abril de 1974 os grandes geradores da energia da revolução, sem a qual nunca se teria materializado a união POVO - MFA. Seria trágico que esses mesmo trabalhadores comprometessem todo o processo, admitindo no seu seio o divisionismo, deixando galopar o oportunismo político, lutando entre si por questões de pormenor ampliadas artificialmente para servir interesses que não são os interesses do Povo Português

Estas palavras pronunciadas por Vasco Gonçalves em Lisboa, numa sessão realizada em 8 de Maio de 1975, no Teatro S. Luís, para comemorar a derrota do nazismo na Europa, merecem, em nosso entender, ser agora lembradas. Realmente, dois anos depois, são já evidentes as consequências dos esforços persistentes dos agentes do capitalismo e dos caixeiros viajantes do imperialismo (qualqeur que seja o disfarce mais ou maenos progressista com que se apresentam), para tentar transformar a revolução de Abril em mera readaptação das classes dominantes; é bem evidente agora que a agitação que alguns fizeram no chamado "verão quente" de 1975 abriu caminho à recuperação capitalista. Razão tinha Vasco Gonçalves, quando, em declarações prestadas ao jornal "El Sol de México", em 14 de Maio de 1975, afirmou:

« Os inimigos da Revolução Portuguesa são principalmente as forças ligadas ao capital monopolista nacional e internacional, que têm levado fortes golpes, mas não estão inteiramente destruídas. É por isso que nessa primeira finalidade reside as destruições do poder dos monopólios e latifúndios.».

Para avançar na recuperação capitalista a abrir caminho à restauração do poder dos monopólios e latifúndios, era preciso destruir politicamente Vasco Gonçalves, era preciso dividir o MFA, mesmo que, para isso, se tornasse necessário minimizar, esqucer, amnistiar, passar por cima dos crimes do fascismo, soltando-se pides e reintegrando fascistas.
Em nosso entender, o imperialismo e seus agentes internos a tudo recorreram para atentar contra a união POVO - MFA.
Dominando importantes meios de comunicação social e contando com elementos bem treinados em manejar palavras, desencadearam no nosso País uma campanha sistemática de actos terroristas contra defensores da transformação da nossa sociedade numa sociedade socialista.
Todos nós vimos o que foram essas campanhas de calúnias contra personalidades políticas e agrupamentos políticos de esquerda, as campanha de certa imprensa contra militares progressistas, as "homenagens" promovidas a alguns militares de Abril em qie se atacavam outros militares de Abril, as manipulações da opinião, a proliferação de slogans contra-revolucionários do género "O Povo não está com o MFA"; todos nós vimos o que foi a campanha de destruições realizada pelos bombistas, salteadores e incendiários contra sedes de agrupamentos políticos de esquerda e contra cidadãos progressistas.
A par dos comícios de agressão verbal contra Vasco Gonçalves, seus companheiros de Governo e personalidades políticas de esquerda, havia os agressores de facto contra a integridade física de muitos antifascistas.
A par das calúnias que Governo, havia os bombistas de facto que à bomba destruiram sesdes de agrupamentos políticos, habitações e outros bens de particulares, combatentes pela democracia e pelo socialismo.
A par de comícios incendiários contra Vasco Gonçalves e seus companheiros de Governo, havia os incêndios de facto que criminosos sem escrúpulos ateavam contra os bens de cidadãos e contra as riquesas nacionais.
O imperialismo usou e abusou dos meios legalistas e dos meios ilegais; serviu-se, por um lado, dos elementos ambiciosos de poder e, por outro lado, de criminosos de delito comum. Sem naturalmente saberem uns dos outros, sem naturalmente admitirem sequer que alguma ligação houvesse ou pudesse haver entre uns e outros, rejeitando-se até mutuamente, tudo isso aproveitou ao imperialismo, que soube utilizar os dois tipos de acção para dividir elementos progressistas do MFA, para separar partidos que, pelos seus programas, pelas suas origens e pelo seu passado antifascista, deviam naturalmente dar-se as mãos para o prosseguimento da marcha rumo ao socialismo; para lançar sementes de divisão no seio do Povo, tentando dividi-lo entre povo do norte e povo do sul, entre retornados e não retornados, entre povo do continente e povo das ilhas, entre povo do litoral e povo do interior; para tentar quebrar a unidade dos trabalhadores, separando trabalhadores do campo e trabalhadores da cidade, trabalhadores da terra e trabalhadores do mar, trabalhadores manuais e trabalhadores intelectuais, trabalhadores deste partido e trabalhadores daquele partido, trabalhadores com partido e trabalhadores sem partido.
É inegável que as acções empreendidas pelo imperialismo e secundadas pelos arautos da recuperação capitalista tiveram alguns êxitos importantes, mas não conseguíram destruir politicamente Vasco Gonçalves nem conseguiriam destruir politicamente o MFA. Na verdade, ainda em sessões recentemente realizadas para comemorar o 25 de Abril, logo que algum orador vagamente aludia ao nome de Vasco Gonçalves, a assistência, em uníssono: VASCO, VASCO, VASCO!...
O Povo não esqueceu Vasco, como não esqueceu outros destacados elementos do MFA, cujos nomes estão associados a pessoas importantes em direcção ao socialimo.
O imperialismo não venceu, o imperialismo não vencerá.
Apesar de toda a sua experiência de infiltração, apesar de toda a sua experiência golpista, apesar dos meios usados e da sua diversidade e quantidade, o imperialismo e seus agentes também não conseguíram, e não conseguirão, quebrar a unidade dos trabalhadores, que, neste 1º de Maio de 1977, deram um alto exemplo de clarividência política, comemorando unidos o dia do trabalho, desfilando juntos e organizados em defesa de suas reivindicações, levantando a voz em defesa das conquistas da revolução pela economia nacional e contra a recuperação capitalista.
Os trabalhadores portugueses compreenderam bem o alcance das palavras de Vasco Gonçalves:

« Seria trágico que esses mesmos trabalhadores comprometessem todo o processo, admitindo no seu seio o divisionismo, deixando galopar o oportunismo político, lutando entre si por questões de pormenor ampliadas artificialmente para servir interesses que não são os interesses do Povo Português».


Porto, 8 / 5 / 1977
José Morgado